segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Curtimento do couro de peixe

   Curtume é a indústria que transforma a pele do animal em couro. Esta transformação, ou seja, os processos pelos quais a pele passa para chegar a couro, denomina-se curtimento.
   Ao invés de ser descartado, o couro do peixe oferece ao mercado de moda um material de qualidade e estética diferenciada.

Os principais equipamentos necessários para a produção de couro de peixe curtido são:

• Fulão, com gramalheira e disco;
• Máquina de descarna e corte;
• Máquina de rebaixar ou rebaixadeira;
• Mesas inox;
• Balança;
• Esmeril;
• Serra mecânica;
• Plaina limpadora;
• Máquina de secar;
• Máquina de lixar com exaustor;
• Máquina de amaciar;
• Prensa hidráulica;
• Ferramentas manuais;
• Móveis e utensílios do escritório.

O processo de produção envolve as seguintes etapas:

Conservação: esta etapa tem como objetivo evitar a putrefação (apodrecimento) das peles, minimizando o desenvolvimento de bactérias e ações enzimáticas. Antes de efetuar qualquer processo de conservação deve-se fazer uma lavagem prévia das peles, recortá-las e pré-descarná-las. A conservação deve ter início até, no máximo, quatro horas após o abate do animal, respeitando sempre as variações decorrentes das condições ambientais. A conservação pode ser realizada com uso de sal, salmoura ou biocídas, ou, ainda, com o emprego de técnicas, tais como: resfriamento ou congelamento

Ribeira: envolve as etapas de limpeza e adequação das peles para receber o curtimento.
      -Remolho: é um processo de limpeza das peles e sua condução constitui fator determinante das etapas posteriores.
      -Descamação ou Caleiro: objetivo é remover a epiderme, juntamente com as escamas, e promover uma abertura da estrutura fibrosa. As peles remolhadas passam por um banho com 100% de água, 1,5% de sulfeto de sódio e 0,2% de tensoativo não iônico. O fulão deve rodar durante dez minutos a cada hora, durante 2 horas. As escamas que permanecerem após este período devem ser removidas com auxílio de uma espátula ou com as costas de uma faca.
      - Descarne: é remoção da camada hipodérmica, constituída por tecido adiposo (gorduras), facilitando a penetração, na pele, dos produtos químicos que serão usados nas etapas posteriores. Faz-se, com o auxílio de uma espátula ou com as costas de uma faca, uma raspagem da gordura e de eventuais restos de carne que estejam aderidos à pele.
      - Desengraxe: visa eliminar o excesso de gordura das peles. Para tanto, estas são submetidas a um banho com 100% de água e 0,5% de agente desengraxante à base de solventes orgânicos, durante 30 minutos em um fulão em movimento a 4 rpm. Após o banho o líquido deve ser escorrido e as peles bem lavadas.
      -Desencalagem e Purga: A desencalagem tem o objetivo de remover a alcalinidade conferida às peles durante o processo de caleiro. A purga visa à limpeza interna das peles.O processo consiste em colocar as peles em um banho com 100% de água e 1,5% de agente desencalante. Roda-se o fulão durante 30 minutos a 8 rpm e acrescenta-se 0,07% de purga de alta concentração, rodando mais 30 minutos.

   A fim de verificar se o processo está concluído, corta-se um pedaço de uma das peles. Este pedaço é escorrido para eliminar o excesso de água, é cortado novamente e, sobre este corte é aplicada solução de fenolftaleína, que deve permanecer incolor. Caso se desenvolva uma coloração rosada, deve-se deixar o fulão rodar por mais tempo ou acrescentar mais agente desencalante, deixando-se rodar mais tempo. Faz-se novamente o corte com fenolftaleína até que permaneça incolor. Depois disto o banho deve ser escorrido e as peles lavadas.


Píquel: tem como objetivo preparar as fibras colágenas para penetração do agente curtente. As peles desencaladas e purgadas são colocadas em um banho com 100% de água e 6% de sal. Deixa-se rodar por 10 minutos e, após, com o fulão em movimento, acrescenta-se pelo funil, 2% de ácido fórmico diluído 1:10 (uma parte de ácido para dez partes de água) em três adições com intervá-los de 10 minutos (adiciona-se 1/3, aguarda-se 10 minutos, adiciona-se mais 1/3 e assim sucessivamente até adicionar todo o ácido).
Roda-se o fulão a 8 rpm e, após 2 horas, o processo deve estar concluído. Para verificar se esta fase foi completada, corta-se um pedaço de uma das peles, elimina-se o excesso de água, corta-se novamente e aplica-se solução de VBC (verde de bromocresol), cuja coloração deve permanecer amarela. Caso se apresente uma coloração esverdeada ou azul, deve-se rodar mais tempo. Ainda persistindo o tom esverdeado ou azul, acrescenta-se mais ácido fórmico e deixa-se rodar até obter-se a coloração amarela.

 Curtimento: promove a estabilização da proteína colágena, tornando as peles imputrescíveis. É também a transformação das peles em material estável e que não apodrece. No mesmo banho de píquel acrescenta-se 8% de agente curtente (combinação de cromo com tanino sintético). O fulão deve rodar a 8 rpm, durante 1 hora. Depois disto adiciona-se 1% de agente basificante diluído 1:10, pelo funil, em três adições com intervá-los de 10 minutos. Deixa-se rodar por mais 1 hora e verifica-se o pH do banho com papel indicador universal. Se o pH estiver abaixo de 3,8, deve-se acrescentar mais basificante até que o pH se estabilize entre 3,8 e 4,0. Então deixa-se rodar por mais 4 horas. Ao final deste tempo, o pH deve permanecer entre 3,8 e 4,0. - Descanso: o objetivo propiciar tempo para que se completem as reações de curtimento. Retira-se as peles do banho de curtimento e deixa-se que repousem sobre uma superfície plana por um período de 24 horas.

Acabamento Molhado: envolve uma série de operações responsáveis por determinar as características finais das peles. Estas operações estão descritas a seguir:
      - Neutralização: esta etapa visa a eliminação dos ácidos livres existentes nas peles. As peles são colocadas no fulão com 100% de água à temperatura de 30ºC e 1,5 % de agente neutralizante. Roda-se o fulão por 40 minutos à velocidade de 8 rpm. Após este tempo o pH deve estar entre 4,5 e 5,0. Para verificar o pH da pele faz-se um corte e aplica-se solução de VBC (verde de bromocresol), que deve apresentar coloração azulada. O pH do banho é medido com papel indicador universal e deve ser semelhante ao da pele. Escorre-se o banho e lava-se bem as peles.
      - Recurtimento. Tem como objetivo acentuar ou mesmo modificar as características obtidas durante o curtimento. As peles são colocadas no fulão em banho com 100% de água à temperatura de 40ºC com 5% do agente curtente (combinação de cromo com tanino sintético). Roda-se o fulão por 40 minutos a 8 rpm. Acrescenta-se, então, 0,5% de formiato de sódio e roda-se por mais 20 minutos. O pH deve estar em torno de 4,5. Caso esteja abaixo deste valor, devem ser adicionadas pequenas doses de bicarbonato de sódio diluído 1:10, até se alcançar o valor de pH ideal. Escorre-se o banho.
      - Tingimento: esta etapa visa a fixação de cores nas peles. Com as peles já no fulão coloca-se 50% de água e 3% de corante previamente diluído. Deixa-se rodar por 30 minutos e, então, faz-se um corte em uma das peles a fim de verificar a penetração do corante na espessura das peles. Se não estiver completamente tingida, deixa-se rodar mais tempo. Se ainda não for suficiente, acrescenta-se mais corante. Após obter-se um tingimento total acrescenta-se 100% de água à temperatura de 4ºC e 0,5% de ácido fórmico diluído 1:10 pelo funil, e deixa-se rodar por mais 20 minutos. O pH deve estar em torno de 4,5. Escorre-se o banho.
      - Engraxe: o objetivo do processo de engraxe é dar maciez ao couro. Imediatamente após ter-se escorrido o banho de tingimento, acrescenta-se 100% de água à temperatura de 40º C e 8% de óleo universal para engraxe diluído 1:4 a 60ºC. Roda-se o fulão por 1 hora, a 8 rpm. Após este período o banho deve estar transparente ou levemente turvo. Caso contrário, aquece-se o banho e deixa-se rodar mais tempo. Depois disto adiciona-se 0,5% de ácido fórmico diluído 1:5 e roda-se por mais 20 minutos. O pH final deve situar-se em torno de 3,7. Escorre-se o banho e lava-se as peles com água fria.

Pré-Acabamento: esta fase envolve a realização de operações como a secagem e o amaciamento, e tende a preparação das peles para que estejam adequadas para o acabamento final. -Secagem: visa eliminar o excesso de água das peles. As peles devem ser penduradas expostas ao ar para que se reduza o teor de umidade das mesmas.
      -Amaciamento: complementa o trabalho feito durante o engraxe, contribuindo para conferir maciez às peles. Depois de secas, as peles são amaciadas em equipamentos como a roda de amaciar, ou, na falta desta, podem ser friccionadas contra a quina de uma mesa, desde que esta tenha as arestas arredondadas.

Acabamento Final: nesta etapa é conferido às peles seu aspecto definitivo. O acabamento deve ser conduzido conforme o destino que será dado às peles. Aquelas que serão utilizadas em artefatos de aparência natural estão prontas para ser comercializadas após o amaciamento, o acabamento é feito com aplicações de resinas e lacas sobre o couro, através de pulverização com pistola de ar. É necessária a prensagem com chapa aquecida para realçar o brilho. Esta operação é executada através de uma pressa hidráulica (a 7ºC e pressão de 120 atm), que fixa os pigmentos que permitem realçar a beleza das peles exóticas. Alguns tipos de acabamento:           - Acabamento com Pigmento. O pigmento é um produto sintético, aplicado em couro de baixa qualidade. O objetivo é que eventuais defeitos sejam atenuados e o resultado é um couro com efeito plastificado.
      - Acabamento Semi-Anilina. É intermediário entre a anilina e o pigmentado. Nesse tipo de acabamento são utilizadas pequenas quantidades de pigmentos para obtenção de efeitos de igualização e cobertura.
      - Acabamento com Anilina. Realça o aspecto natural do couro, não usando pigmentos.
Outros acabamentos podem ser obtidos depois que o couro estiver em nível de acabamento.


E está pronto o couro de peixe para ser utilizado na confecção de bolsas, sapatos e acessórios.


Fonte: blog babel das artes
                                          

Modelo de bolsa que utiliza couro de peixe, 

da marca paraense Fora D'Água. (Foto: Divulgação)





Fonte: blog babel das artes


Um comentário: